sábado, 27 de junho de 2015

Cansaço, Aprendizados, Provisoriedades.

Isso era pra vir antes dos dois últimos posts, mas esqueci de postar T_T
(14/05/15 - publicado no Facebook.)

Cansei. Cansei, sinto que meu tempo aqui acabou. E não estou falando de morrer. Cansei de brincar de ter a vida perfeita com amigos perfeitos na universidade perfeita e fingir que to me comprometendo com os estudos quando na verdade eu estou dando aquele jeitinho brasileiro de sempre. Não estou dizendo que não mudei aqui. Na verdade eu aprendi muito, aprendi a me virar sozinha, a não depender da minha mãe, ganhei maturidade, e principalmente cresci emocionalmente. Mas eu ainda sou uma chorona, e muitas vezes ligo pra minha mãe chorando quando a barra aperta. Minha mãe é meu porto seguro, e posso dizer com certeza que a distância nos uniu mais ainda. 
No meu tempo aqui aprendi que mudanças são boas, a gente aprende a se acostumar com tudo. Se acostumar, essa é uma das palavras mais importantes que eu aprendi aqui. A gente se acostuma a viver em um país de primeiro mundo como a Austrália, mas a gente também se acostuma a viver num país de terceiro mundo como a Índia. A gente se acostuma a poder beber água de todas as torneiras, a viver numa cidade limpa e bonita, a ter uma infra estrutura maravilhosa na universidade e no seu alojamento como aqui na Austrália. Mas a gente se acostuma também a não ter mais sabão pra lavar as mãos nos banheiros na índia, e comer comida de rua no meio de vacas, cachorros, porcos, e muito, muito pó. A gente se acostuma a sentir a crocância da areia na boca, num final da tarde enquanto a poeira levanta daquele chão imundo. Eu aprendi a me acostumar, e principalmente, a aceitar novas realidades. E isso que tornou minha viagem pra Índia a viagem mais mágica da minha vida, e posso afirmar com certeza que aprendi em dois meses lá MUITO mais do que aprendi em um ano e meio aqui na Austrália. Saber que eu sou capaz de me acostumar, de me moldar e me encaixar à novas realidades é maravilhoso. Te dá uma sensação indescritível, e meio que você sente que o mundo é a sua casa, e nada mais pode te impedir de conquistar o que almeja. "Você pode, só depende de você". 
Sinceramente eu aprendi que viajar sozinha é a melhor coisa do mundo, você consegue conhecer pessoas super interessantes que certamente não conheceria se estivesse acompanhado. E com elas você aprende tanto! Você aprende tanto também nas horas que você passa sozinho, encarando perrengues. Tem as horas ruins, claro, como eu chorando na frente do hospital em Cairns depois que o meu ouvido sangrou pra fazer scuba diving na grande barreira de corais. Mas eu aprendi também que tudo acontece por um motivo: aprendizado. As piores experiências carregam os maiores e mais difíceis ensinamentos. Mas agora, depois de um ano e meio vivendo sozinha, errando, tentando novamente, aprendendo, sorrindo, chorando, dançando -e bota dançando nisso!-, superando desafios, me descabelando com trabalhos e situações constrangedoras em q eu me coloco, eu acho que meio que me saturei. É engraçado, eu odiava pensar que eu teria que voltar para o Brasil antes. Mas agora, talvez meu cérebro saiba que o tempo já está chegando, e se acostumou com a idéia. Talvez eu já tenha me acomodado com a vida perfeita aqui na terra dos cangurus, e meu coração quer mais, mais mudanças, mais desafios, mais ação. Eu quero voltar. Eu quero voltar e continuar minha vida no Brasil. Ultimamente, as vezes eu sinto que eu só estou empurrando com a barriga, deixando tudo pra última hora, sendo irresponsável, meio que vivendo nas coxas e vivendo no improviso, sabendo que essa vida perfeita logo logo vai acabar. A ansiedade tá foda, e se antes eu tinha pesadelos em que eu voltava pro Brasil, agora eu sonho que eu to voltando pro Brasil e chorando de felicidade por ver meus amigos e família. Mas eu sei que dinheiro da tia Dilma vai acabar, viagens perfeitas vão acabar, amigos internacionais com culturas diferentes não vão estar próximos, viver no alojamento perfeito com mais de 300 outros adolescentes e tudo convenientemente próximo vai acabar. Qualidade de vida, eventos pra tudo quanto é gosto, festas estranhas, -com gente esquisita-, goon e jogos de cartas na cozinha vão acabar. Ah, a cozinha. A cozinha mágica, que te faz cair na famosa Kitchen Trap (armadilha da cozinha), quando você vai só pra beliscar alguma coisinha, encontra um amigo, senta pra conversar e quando percebe perdeu o dia inteiro na cozinha As vezes você chega pra almoçar, fica, ri, conversa, fofoca, janta, e quando percebe o dia se foi. E você na cozinha! A cozinha não é só sobre fazer comida: é aonde as festas começam, acabam,onde pessoas se encontram, dividem experiências, jogam papo fora, escrevem cartas toscas uma pra outra, é definitivamente o lugar mais importante do nosso hall. E todas as vezes que eu vejo meus amigos eu corro abraçá-los. As vezes eles brincam perguntando como eu faço pra estar sempre feliz, abraçando todo mundo. Eu sei que tá acabando meu tempo aqui, e daqui a pouco eu não vou mais poder abraçar eles. E tudo vai virar saudades, nostalgia, "os bons e velhos tempos", "canberra véia", a terra dos cangurus, a época perfeita, "ah, querida austrália...". Mas então eu vou poder voltar pro meu país e continuar minha vida de verdade. Porque eu sinto que a daqui é uma vida de mentirinha, onde eu ganho tudo do bom e do melhor, mas sem me esforçar o bastante pra conquistar isso, sabe? Mal posso esperar pra poder arranjar um emprego quando eu voltar e conseguir meu próprio dinheiro, aquele dinheiro que eu posso falar que é fruto do meu suor. Então eu vou poder planejar minha vida direitinho, me estabelecer, viver de verdade. Cansei de improviso e temporariedade. E eu nem sei se essa última palavra existe. Ou o porquê de eu estar escrevendo esse texto ridiculamente longo que eu sei que ninguém vai ler. Mas foi meio que um desabafo. Eu amo a Austrália, eu amo cada tiquinho e todos os aspectos daqui, mas eu to morreeeeeeeeeeeendo de saudades do Brasil e da minha família, dos meus amigos, da minha cidade. Agora, depois de escrever esse romance na madrugada, sinto que tirei um gigante das minhas costas. Vou voltar pro meu assignment - um dos dois que preciso entregar hoje. Boa sorte pra mim.

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