quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Um Desabafo

(texto escrito em 10/11/14)

­­­­­­­­A vida é tão irônica!
Há cinco minutos atrás eu estava vendo pela janela do ônibus minhas amigas acenando pra mim, pela última vez.
Quando eu vim para a Austrália nunca imaginei que eu iria conhecer pessoas tão especiais, que eu ia aprender tanta coisa, passar por tantas experiências novas. Já fazem 10 meses que estou no país dos cangurus, em Oz, na terra dos papagaios! O tempo voa!!!
O meu primeiro semestre aqui foi bom, mas eu ainda estava me acostumando com a língua, eu dependia muito dos outros brasileiros e pra ser sincera eu só andava com brasileiros (não que isso seja uma coisa ruim, eles são demais! Mas não é bem o tipo de experiência q se espera num intercâmbio né? Rsrs). Foi então que eu mudei de alojamento no segundo semestre e me deparei com um mundo totalmente novo. Na minha primeira semana de aula do segundo semestre, a O-week como eles chamam, fui numa palestra introdutória para exchange students. E foi no banheiro, antes da palestra começar q eu vi duas asiáticas. Eu não sei por que bulhufas, mas tive vontade  de puxar assunto, e então comentei algo sobre a falta sabonete, conversa boba - e surpreendente, porque é realmente difícil faltar sabonete na ANU. Surpreendente mesmo foi a simpatia das duas, que prolongaram a conversa e então eu descobri que elas eram coreanas e uma delas estudava biologia também! Ela pediu meu facebook e me adicionou. Os dias passaram e então, fuçando no face dela eu descobri que ela morava no mesmo alojamento que eu! Foi tudo muito legal, mas a gente ainda só se falava oi quando cruzávamos.
Um dia quando estava cozinhando, vi minha Senior Resident (estudante responsável pelo meu andar) chegar pra um grupinho numa mesa e apresentar uma menina nova, falando ser do mesmo andar que a gente - térreo do bloco C, onde eu moro. E ela era do México! Fiquei muito feliz, talvez pela língua ser parecida, é sempre interessante conhecer pessoas que falam espanhol.
Até aí  estava legal, mas ainda não conseguia considerar elas minhas "amigas". A única coisa que eu sabia mais sobre elas era q elas também frequentavam as vezes o clube de dança da universidade. Certo dia a garota mexicana comentou que tinha entrado pra um grupo de dança Malasiana, eles estavam ensaiando pra um festival da embaixada da Malásia! Eu achei super interessante e perguntei se eu podia me juntar a eles. Foi aí que a história começou <3
A garota coreana também estava no grupo de dança, e nós três nos tornamos muito amigas. Não demorou muito para que conhecêssemos quase todos os coreanos do nosso alojamento, e os japoneses que também andavam com eles, além de um francês fã número 1 do meu brigadeiro e uma italiana muito fofa! Meu inglês melhorou bastante depois que comecei a sair com eles, além de aprender mais coisas em espanhol e uma ou outra frase em coreano (coisas idiotas q espero nunca utilizar do tipo “vc tem o pinto pequeno” hahahahahah)... É legal a diferença das culturas, mas a garota coreana foi super receptiva e logo adotou o hábito brasileiro e mexicano de abraçar também. E então foram muitos, muitos ensaios de dança, muitos nightclubes, muitas conversas na cozinha, risadas, conselhos, confissões, brigadeiros com morango, panquecas, pegar caneca emprestada, ou simplesmente caminhadas pra desestressar das provas e trabalhos.
O tempo foi passando, como diz aquela música O Tempo- Móveis Coloniais de Acaju "A gente se deu tão bem, que o tempo sentiu inveja, ele ficou zangado e decidiu que era melhor ser mais veloz e passar rápido pra mim", e quando percebi o fim do semestre estava chegando, as provas finais! E elas, exchange students, teriam que voltar pros seus respectivos países.... Tudo o que eu passei com elas foi tão bom, tão mágico, tão intenso mas tão rápido.... Estava chegando ao fim! Sabe, um dia um australiano me disse, meio que na brincadeira, que eles não gostam de fazer amizade com exchange students, porque eles sempre tem que partir e isso dói. Agora eu entendo o que eles passam.... Pra mim é difícil, mas eu também sou exchange e terei que partir em um semestre. Mas pra eles, é todos os semestres gente chegando, gente partindo....
"Tem gente que vem e quer ficar, tem gente que vai e quer voltar, tem gente que veio só olhar, tem gente a sorrir e a chorar.... E assim, chegar e partir!" Encontros e Despedidas nunca fez tanto sentido (ai que gay ficar citando letras, vou parar).
Agora estou eu no busão, indo para Sydney. Elas ficam em Canberra - a coreana irá em cerca de 5 dias, e a mexicana também. Ambas vão viajar pra diferentes lugares, e então  voltar pros seus países. Mas quando eu voltar pra Canberra -em dez dias-, elas não estarão mais lá, então eu acabei de ver elas pela última vez. Com direito a elas me acompanharem até a rodoviária! Com direito à uma cartinha de despedida mexicana e uma canção de despedida coreana... Ela me disse que a letra diz que isso não é um adeus, mas é um até algum dia. Eu me sinto a pessoa mais sortuda do mundo por ter amigos tão bons, e não consigo expressar o quanto sou grata por isso. Eu não poderia pedir mais,  eu seria estupidamente egoísta, porque eu já conquistei tanto! É maravilhoso saber que você tem ótimos amigos, seja aqui na Austrália, na Coréia, no México, no Japão, na França, na Itália ou no Brasil! Sim, eu também devo muito aos amigos que deixei no Brasil e sinto muita falta deles! Eu devo muito à minha mãe que me ensinou a acreditar nos meus sonhos e correr atrás. Eu lembro dela sempre falando "se você quiser, você consegue! É só você correr atrás dos seus sonhos". E o meu avô, sempre me recomendando ótimos livros, principalmente de auto ajuda -, que me inspiraram tanto à confiar em mim e na minha capacidade de atingir os meus sonhos. Meu avô é meu herói.
Lembro quando minha família passava por dificuldades financeiras, e tive que sair de uma escola particular e ir pra uma pública, na sétima série do ensino fundamental. Eu estava arrasada, pois sabia da péssima qualidade do ensino público no Brasil e que isso influenciava muito no meu futuro. Mas então tive uma ótima professora de História, a qual sempre nos dizia pra acreditar em nossos sonhos. Existem três escolas de ensino médio muito boas em minha cidade, gratúitas, que você precisa fazer uma prova pra ingressar - mas a concorrência é altíssima. Eu sabia que minha mãe não tinha dinheiro pra pagar um ensino médio particular, e a única alternativa de ter um ensino médio de qualidade seria ingressar numa dessas três escolas. E essa professora de história me deu super apoio, falando que ela tinha tido alunos que conseguiram ingressar nessas escolas, e a gente era capaz - bastava se esforçar! Eu acreditei em mim e fiz. Prestei pra duas dessas escolas e para minha supresa fui aceita nas duas, pude até escolher. Quando chegou a época do vestibular, mais uma vez acreditei em mim mesma e passei numa faculdade pública, logo de cara após meu terceiro ano do ensino médio. Lá conheci uma veterana que tinha acabado de voltar da Espanha- por um programa chamado Ciências sem Fronteiras, que mandava bons estudantes pro exterior com tudo pago pra continuar a faculdade. Era a chance que eu precisava pra conquistar mais um sonho, o de morar fora do Brasil! Essa veterana de longos cabelos ruivos me ajudou demais, deu maior apoio, e minhas melhores amigas também, sempre confiando em mim. Uma delas também prestou pro Ciências sem Fronteiras, e passamos juntas. Ela foi pro Canadá, e eu vim pra Austrália. A outra prestou um concurso pro IBAMA e passou, e está no emprego dos sonhos, trabalhando com unidades de conservação. É muito gostoso saber que estamos conquistando tudo o que queríamos!
E sim, a vida é interessante... A gente conhece tanta gente especial, mas a vida é um vai e vem incessante, o que nos resta é a saudades e os bons momentos que vão ficar contigo para sempre. Vocês podem parar de se falar, eu sei que é impossível manter contato com todo mundo que você quer, talvez eu nunca mais veja ou converse com alguém especial que eu conheci aqui na Aussie. Mas com certeza essas pessoas vão ficar pra sempre comigo - no meu coração, nas minhas memórias dos bons momentos!
Minha mãse um dia me disse que eu sonho até demais, e as vezes não tenho os pés no chão. Mas eu amo isso, e não quero mudar! Aqui em Oz, quando me dei conta que eu realmente posso atingir todos os meus sonhos se eu me esforçar e lutar por isso, decidi ir mais longe e traçar mais dois novos objetivos a curto prazo, enquanto eu ainda estivesse na Austrália. Era um risco e seria difícil, mas eu iria tentar. Primeiro eu decidi que eu iria de qualquer jeito ir pro congresso da IUCN sobre áreas protegidas, em Sydney. É um congresso mundial, sobre a área na qual eu quero trabalhar, era uma oportunidade de ouro! Mas era 400 dólares apenas a inscrição, sem contar transporte, comida e acomodação. Absurdamente caro. Fui à luta: tentei de todas as maneiras, entrei até pra um grupo de jovens ligados à mídia que iria cobrir o congresso pra ver se eu conseguiria ajuda de custos da inscrição, tentei encontrar um  patrocinador loucamente, mandei email até pra secretaria do meio ambiente da minha cidade! Mas sem sucesso. Foi aí que eu tive aula com um professor convidado, que era ligado à IUCN. Eu não iria deixar essa oportunidade passar! Fui conversar com ele, o qual foi super atencioso e disposto a ajudar. Ele fez umas ligações e então me disse que eu era muito sortuda, pois as inscrições pra voluntariado no congresso tinham acabado de reabrir, pois eles estavam precisando de mais voluntários pra trabalhar. Em troca eu não precisaria pagar a taxa de inscrição e uau - eu ia ajudar no congresso mundial de conservação de áreas protegidas da IUCN!
Meu segundo objetivo era voluntariar. Mas não apenas voluntariar no congresso, eu queria algo maior, por que não usar minhas férias pra ir pra outro país voluntariar pela AIESEC? O processo foi bem estressante, eles me disseram que tinham muitos projetos na área ambiental, eu paguei a taxa, e no fim não achei nenhum projeto que não fosse ensinar inglês pra crianças. Me inscrevi pra um na Indonésia, fui aceita, comprei passagens. Mas tinha alguma coisa errada... Aquela decisão não parecia ser a melhor opção. Um dia recebi um email com uns projetos pra trabalhar numas fazendas em Taiwan - não tive dúvida, ia cancelar o projeto da Indonésia! Mais dor de cabeça, mais choros, muitas vezes tudo o que eu queria era só voltar pro Brasil pra chorar no colo da minha mãe porque parecia que nada estava dando certo. Eu nunca tinha tido tanta responsabilidade assim na minha vida, e admito que é difícil manejar tanta coisa ao mesmo tempo. Mas minha mãe sempre me ajudou me lembrando quanta coisa eu já conquistei, e que eu não deveria desistir! Eu tinha ido já tão longe... Desistir agora seria bobeira, e preguiça. Seria “nadar, nadar, e morrer na praia”. No final decidi ir pro Sri Lanka, num projeto para voluntariar num abrigo para animais. Mais problemas pra resolver, falta de dinheiro, problemas em trocar a passagem, choro no celular conversando com a atendente da companhia aérea, conversas com a minha mãe no skype, stress juntando tudo isso ao mesmo tempo com as provas finais e sensação de que você vai reprovar em tudo, problemas no meu ciclo menstrual, últimos dias com as minhas amigas.... Ufa! Eu nunca vivi a vida tão intensamente.
Num dos dias mais stressantes da minha vida, um amigo meu da malásia me disse que eu deveria ficar feliz, pois é melhor uma vida cheia de responsabilidades, riscos e correria do que uma vida monótonamente  segura. Porque no futuro eu iria me arrepender de não ter arriscado, e todo esse stress só indica que eu estou vivendo minha vida intensamente. Eu li alguns dias atrás no facebook uma mensagem "Como eu posso culpar o vento pela bagunça feita, se foi eu quem esqueci a janela aberta?" e compartilhei, traduzindo em inglês também. Um querido amigo meu singapuriano comentou dizendo que sim, nós podemos nos mudar para um quarto sem janela, ou até sem vento. Mas que vida chata seria essa! A vida é feita de ventos, e bagunças são inevitáveis! Cabe a nós arrumarmos a bagunça, pois é assim que a vida funciona.  Esse comentário foi tão lindo, são coisas como essa que eu vou levar pro resto da minha vida.... As pessoas são incríveis, a vida é incrível: ela te ensina tanto, colocando as pessoas certas nas horas certas no seu caminho. Só que a gente não dá valor ou muitas vezes não percebe!

Eu só tenho a agradecer a Deus pela minha vida. No fim eu nem sei porque eu escrevi tudo isso, foi meio que um desabafo, junto com reconhecimento e agradecimento pelas coisas boas que já aconteceram! Espero nunca esquecer de agradecer a Deus, ao universo, ao acaso, ou a qualquer coisa que esteja no controle- isso vai além da fé e crenças. É gratidão J

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No momento (20/11) estou em Sydney, essa semana de voluntariado no Congresso foi demais! Aprendi muito, conheci tanta gente! Depois posto as fotos. Esse texto q eu escrevi significa muito pra mim, e eu vou (I'll try my best to) traduzir  depois que eu voltar pra Canberra, pelo menos o comecinho pra mandar pras minhas amigas :) 



Festa de despedidas BnG 2 semestre