sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Voluntariado na India pt 7 -Pushkar

Pushkar City


" Holly city, where I had at the same time the worst and the best -definitely the most important - experience of my life. The place where God gave me a second chance smile emoticon 
India is magic! I am learning so many important things... I have tough times indeed but I don't regret coming here not even if it means an Aussie dream finishing earlier."










O bendito "Special Lassi"...

Reminiscências 

Primeiro, fui pensamento: pensamento fixo, concentrado, que de certo detalhe não quer se desvencilhar.
Filosofei profundamente sobre coisas banais pelo caminho, as vestimentas, o animal no telhado, o banco do automóvel e o quadro do hotel que se assemelhava a um famoso terrorista e parecia mexer os olhos, continuamente me encarando.
Então minha cabeça foi pesando, fui me embaralhando,e em meu ninho preferi estar.
A música- ah, a música! A música era viva: entrava por meus ouvidos e abraçava minha mente, dominando-a. 
A batida coordenava minha máquina terrestre, ditando minha respiração que se tornava mais difícil a cada batida, e meus movimentos - cada vez mais pesados.
Quando percebi era vácuo: universo, vazio. Escuridão. Mas a musica, - ah, a batida! - me transformava, me coordenava, me viajava na imensidão. 
As vezes vinha, as vezes ia: voltava para essa realidade cada vez menos, sentia que ia me perdendo.
Atravessei cores, diversas formas tomei. Derreti, escorri, me revirei. Me espalhei. Caleidoscópica me senti, e a música ia me levando por aquela loucura. Queria chorar, queria rir, era divertido e desesperador ao mesmo tempo. 
Me senti. Senti minhas células, pequenas unidades, cada átomo vibrando no meu corpo. Micro universos- todos funcionando na mais completa harmonia e interconectados. Pude sentir todos eles! Caos na mais complete harmonia. Questionei-me se esse universo conhecido também não era um micro universo de uma realidade maior.
Despetalei-me.
Não me vi- pois não tinha visão. Apenas sentia-me, e sentia cores, luzes, gostos, formas, cheiros e as batidas.
Então, ainda no escuro, Água virei: vibrava a cada som, a cada palavra, a cada grave e agudo que aquela música tocava, sussurrava, gritava e gemia.
A música agora se resumia a barulhos indistinguíveis, ziguezagueando notas altas e baixas, a qual ditava minha forma e ação. A respiração continuava difícil - seria isso a sensação de morrer?
Quando recuperava minha até então realidade, meus movimentos se resumiam a meros tremores.
Com meu corpo sofrendo abalos sísmicos, fui Terra: a cada migalha, solo. Senti me pisarem, revirarem, me tocarem. Senti me cultivarem. Era um misto de amor e ódio sobre mim. 
Entao algo me penetrou, me preenchi. Me senti úmida.
Algo então começou a crescer: me rasgava! Rasgando minha superfície, era causa e me tornei consequência: era Planta.
Como broto fui exposta à todas as adversidades: ventos, tempestades- quase afoguei-me! A seca se mostrou igualmente um grande obstáculo, mas venci. Cresci.
Árvore robusta, balanceava orgulhosa meus fortes galhos com a brisa. Me senti abrigo, me senti mãe. Me senti aquecida pelo pai sol e abençoada pela mãe chuva. Os animais vinham até mim e me senti amada. Fui útil.
Um dia então uma ave- um pequeno pássaro amarelo sentou em mim e contemplou minha alma: árvore não poderia mais ser, e mergulhei na abóbada azul com minhas asas douradas. Era Ave.
Voei e viajei pelos mais diversos cenários - fui pássaro e águia. 
Vi florestas nascerem, morrerem, desertos prosperarem e desaparecerem.
Os mais diversos ecossistemas vivenciei- vi as paisagens mudando, os seres vivos se adaptando; mais do que senti o processo de evolução da terra, participei!
Nos minerais, vegetais e animais uma coisa senti em comum- paz e compaixão.
Então fui Homem- e na humanidade me perdi. Fui escravo, fui mendigo, fui da nobre e plebeu. Fui homem, fui mulher - não me sentia mais ele ou ela, me sentia vida. Vida que habita corpos e mentes.
Fui luz novamente e pelo espaço viajei, me espalhei e me entreguei.
Como som, ressoei por cada canto da realidade ou da imaginação:
Vi as mais diversas épocas e suas histórias. Vi histórias e segredos, traições e paixões. Senti, e senti que a novidade era um novamente. Logo tudo se combinou e o presente se fez plausível.
Me senti nada mais uma vez- vazia, imaterial. Voltei ao espaço, à solidão- mas não estava sozinha. Sabia que alguém me guiava nessa grande e louca viagem.
O ritmo ainda ressoava, fui me desfazendo, a música me derretia. De repente o tempo se desfez, e nele viajei, me perdi, morri e renasci.
Sobre o tempo, não foi algo colocável em palavras: diferentes realidades, paralelos universos, várias faixas vibratorias se tornaram visitáveis.
Descobri que eu não sou uma: sou duas, sou três, sou todas as possibilidades ocorrendo simultaneamente em realidades diferentes. 
Temi- lembrei que ainda estava naquele quarto de hotel, mas depois de tantas memórias - não seria essa só mais uma memória também? Saberia eu voltar pra realidade certa, se isso existisse?
Afinal o que eu sou, da onde pertenço? Ou sou só um pedaço da mente daquela garota viajando no surrealismo?
Seriam essas memórias de existências passadas acessadas no meu inconsciente que revivi? Ou só criações de uma imaginação fértil para no final poder dizer "com elas aprendi"? 
Muitas perguntas invadiram minha mente - agora que compreendia o tempo, o espaço e as diversas realidades, a qual eu pertencia? O q eu era? O que é estar viva?
Talvez eu estivesse morta; ou presa no delírio entre a vida e a morte. Desejei e rezei com todas as minhas forças pra morrer de uma vez- eu não conseguiria voltar a viver normalmente com toda essa informação!
De qualquer maneira, uma certeza se fez constante: a mesma eu nunca mais poderia ser!
Soubera de tantas histórias, tantas vidas vivi em uma noite…tivera tantas explicações, certezas e sentimentos que deles nunca mais retornarei.
Entao aquela sensação me agoniiava, me aterrorizava. Como eu poderia voltar pra minha realidade sabendo de tudo isso? Responsabilidade- a maior de todas senti. Uma carga gigantesca repousava sobre minhas costas.
Não sei como, mas minhas lembranças acabam por ai. Quando percebi estava de volta à uma realidade. Ao quarto de hotel. Deus deve ter me concedido outra chance. Tenho medo de tentar lembrar mais sobre essa maluca viagem – a verdade e suas consequências me aterrorizam. Só me resta tentar ser o menos desnecessária possível. Fazer essa existência útil de alguma forma, depois de todas essas confissões

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