(texto escrito em 10/11/14)
A vida é tão irônica!
Há cinco minutos atrás eu estava vendo pela
janela do ônibus minhas amigas acenando pra mim, pela última vez.
Quando eu vim para a Austrália nunca imaginei
que eu iria conhecer pessoas tão especiais, que eu ia aprender tanta coisa,
passar por tantas experiências novas. Já fazem 10 meses que estou no país dos
cangurus, em Oz, na terra dos papagaios! O tempo voa!!!
O meu primeiro semestre aqui foi bom, mas eu
ainda estava me acostumando com a língua, eu dependia muito dos outros
brasileiros e pra ser sincera eu só andava com brasileiros (não que isso seja
uma coisa ruim, eles são demais! Mas não é bem o tipo de experiência q se
espera num intercâmbio né? Rsrs). Foi então que eu mudei de alojamento no
segundo semestre e me deparei com um mundo totalmente novo. Na minha primeira
semana de aula do segundo semestre, a O-week como eles chamam, fui numa
palestra introdutória para exchange students. E foi no banheiro, antes da
palestra começar q eu vi duas asiáticas. Eu não sei por que bulhufas, mas tive
vontade de puxar assunto, e então
comentei algo sobre a falta sabonete, conversa boba - e surpreendente, porque é
realmente difícil faltar sabonete na ANU. Surpreendente mesmo foi a simpatia
das duas, que prolongaram a conversa e então eu descobri que elas eram coreanas
e uma delas estudava biologia também! Ela pediu meu facebook e me adicionou. Os
dias passaram e então, fuçando no face dela eu descobri que ela morava no mesmo
alojamento que eu! Foi tudo muito legal, mas a gente ainda só se falava oi
quando cruzávamos.
Um dia quando estava cozinhando, vi minha Senior
Resident (estudante responsável pelo meu andar) chegar pra um grupinho numa
mesa e apresentar uma menina nova, falando ser do mesmo andar que a gente -
térreo do bloco C, onde eu moro. E ela era do México! Fiquei muito feliz,
talvez pela língua ser parecida, é sempre interessante conhecer pessoas que
falam espanhol.
Até aí
estava legal, mas ainda não conseguia considerar elas minhas
"amigas". A única coisa que eu sabia mais sobre elas era q elas
também frequentavam as vezes o clube de dança da universidade. Certo dia a
garota mexicana comentou que tinha entrado pra um grupo de dança Malasiana,
eles estavam ensaiando pra um festival da embaixada da Malásia! Eu achei super
interessante e perguntei se eu podia me juntar a eles. Foi aí que a história
começou <3
A garota coreana também estava no grupo de
dança, e nós três nos tornamos muito amigas. Não demorou muito para que
conhecêssemos quase todos os coreanos do nosso alojamento, e os japoneses que
também andavam com eles, além de um francês fã número 1 do meu brigadeiro e uma italiana muito fofa! Meu inglês melhorou bastante depois que comecei a sair
com eles, além de aprender mais coisas em espanhol e uma ou outra frase em
coreano (coisas idiotas q espero nunca utilizar do tipo “vc tem o pinto pequeno”
hahahahahah)... É legal a diferença das culturas, mas a garota coreana foi
super receptiva e logo adotou o hábito brasileiro e mexicano de abraçar também.
E então foram muitos, muitos ensaios de dança, muitos nightclubes, muitas
conversas na cozinha, risadas, conselhos, confissões, brigadeiros com morango, panquecas,
pegar caneca emprestada, ou simplesmente caminhadas pra desestressar das provas
e trabalhos.
O tempo foi passando, como diz aquela música O
Tempo- Móveis Coloniais de Acaju "A gente se deu tão bem, que o tempo
sentiu inveja, ele ficou zangado e decidiu que era melhor ser mais veloz e passar
rápido pra mim", e quando percebi o fim do semestre estava chegando, as
provas finais! E elas, exchange students, teriam que voltar pros seus
respectivos países.... Tudo o que eu passei com elas foi tão bom, tão mágico,
tão intenso mas tão rápido.... Estava chegando ao fim! Sabe, um dia um
australiano me disse, meio que na brincadeira, que eles não gostam de fazer
amizade com exchange students, porque eles sempre tem que partir e isso dói.
Agora eu entendo o que eles passam.... Pra mim é difícil, mas eu também sou
exchange e terei que partir em um semestre. Mas pra eles, é todos os semestres
gente chegando, gente partindo....
"Tem gente que vem e quer ficar, tem gente
que vai e quer voltar, tem gente que veio só olhar, tem gente a sorrir e a
chorar.... E assim, chegar e partir!" Encontros e Despedidas nunca fez
tanto sentido (ai que gay ficar citando letras, vou parar).
Agora estou eu no busão, indo para Sydney. Elas
ficam em Canberra - a coreana irá em cerca de 5 dias, e a mexicana também.
Ambas vão viajar pra diferentes lugares, e então voltar pros seus países. Mas quando eu voltar
pra Canberra -em dez dias-, elas não estarão mais lá, então eu acabei de ver elas
pela última vez. Com direito a elas me acompanharem até a rodoviária! Com
direito à uma cartinha de despedida mexicana e uma canção de despedida
coreana... Ela me disse que a letra diz que isso não é um adeus, mas é um até
algum dia. Eu me sinto a pessoa mais sortuda do mundo por ter amigos tão bons,
e não consigo expressar o quanto sou grata por isso. Eu não poderia pedir
mais, eu seria estupidamente egoísta,
porque eu já conquistei tanto! É maravilhoso saber que você tem ótimos amigos,
seja aqui na Austrália, na Coréia, no México, no Japão, na França, na Itália ou no Brasil! Sim, eu
também devo muito aos amigos que deixei no Brasil e sinto muita falta deles! Eu
devo muito à minha mãe que me ensinou a acreditar nos meus sonhos e correr
atrás. Eu lembro dela sempre falando "se você quiser, você consegue! É só
você correr atrás dos seus sonhos". E o meu avô, sempre me recomendando ótimos
livros, principalmente de auto ajuda -, que me inspiraram tanto à confiar em
mim e na minha capacidade de atingir os meus sonhos. Meu avô é meu herói.
Lembro quando minha família passava por
dificuldades financeiras, e tive que sair de uma escola particular e ir pra uma
pública, na sétima série do ensino fundamental. Eu estava arrasada, pois sabia
da péssima qualidade do ensino público no Brasil e que isso influenciava muito
no meu futuro. Mas então tive uma ótima professora de História, a qual sempre nos
dizia pra acreditar em nossos sonhos. Existem três escolas de ensino médio
muito boas em minha cidade, gratúitas, que você precisa fazer uma prova pra
ingressar - mas a concorrência é altíssima. Eu sabia que minha mãe não tinha
dinheiro pra pagar um ensino médio particular, e a única alternativa de ter um
ensino médio de qualidade seria ingressar numa dessas três escolas. E essa
professora de história me deu super apoio, falando que ela tinha tido alunos
que conseguiram ingressar nessas escolas, e a gente era capaz - bastava se
esforçar! Eu acreditei em mim e fiz. Prestei pra duas dessas escolas e para
minha supresa fui aceita nas duas, pude até escolher. Quando chegou a época do
vestibular, mais uma vez acreditei em mim mesma e passei numa faculdade pública,
logo de cara após meu terceiro ano do ensino médio. Lá conheci uma veterana que
tinha acabado de voltar da Espanha- por um programa chamado Ciências sem
Fronteiras, que mandava bons estudantes pro exterior com tudo pago pra
continuar a faculdade. Era a chance que eu precisava pra conquistar mais um
sonho, o de morar fora do Brasil! Essa veterana de longos cabelos ruivos me
ajudou demais, deu maior apoio, e minhas melhores amigas também, sempre
confiando em mim. Uma delas também prestou pro Ciências sem Fronteiras, e
passamos juntas. Ela foi pro Canadá, e eu vim pra Austrália. A outra prestou um
concurso pro IBAMA e passou, e está no emprego dos sonhos, trabalhando com
unidades de conservação. É muito gostoso saber que estamos conquistando tudo o
que queríamos!
E sim, a vida é interessante... A gente conhece
tanta gente especial, mas a vida é um vai e vem incessante, o que nos resta é a
saudades e os bons momentos que vão ficar contigo para sempre. Vocês podem
parar de se falar, eu sei que é impossível manter contato com todo mundo que
você quer, talvez eu nunca mais veja ou converse com alguém especial que eu
conheci aqui na Aussie. Mas com certeza essas pessoas vão ficar pra sempre
comigo - no meu coração, nas minhas memórias dos bons momentos!
Minha mãse um dia me disse que eu sonho até
demais, e as vezes não tenho os pés no chão. Mas eu amo isso, e não quero
mudar! Aqui em Oz, quando me dei conta que eu realmente posso atingir todos os
meus sonhos se eu me esforçar e lutar por isso, decidi ir mais longe e traçar
mais dois novos objetivos a curto prazo, enquanto eu ainda estivesse na
Austrália. Era um risco e seria difícil, mas eu iria tentar. Primeiro eu decidi
que eu iria de qualquer jeito ir pro congresso da IUCN sobre áreas protegidas,
em Sydney. É um congresso mundial, sobre a área na qual eu quero trabalhar, era
uma oportunidade de ouro! Mas era 400 dólares apenas a inscrição, sem contar
transporte, comida e acomodação. Absurdamente caro. Fui à luta: tentei de todas
as maneiras, entrei até pra um grupo de jovens ligados à mídia que iria cobrir
o congresso pra ver se eu conseguiria ajuda de custos da inscrição, tentei
encontrar um patrocinador loucamente,
mandei email até pra secretaria do meio ambiente da minha cidade! Mas sem
sucesso. Foi aí que eu tive aula com um professor convidado, que era ligado à
IUCN. Eu não iria deixar essa oportunidade passar! Fui conversar com ele, o
qual foi super atencioso e disposto a ajudar. Ele fez umas ligações e então me
disse que eu era muito sortuda, pois as inscrições pra voluntariado no congresso
tinham acabado de reabrir, pois eles estavam precisando de mais voluntários pra
trabalhar. Em troca eu não precisaria pagar a taxa de inscrição e uau - eu ia
ajudar no congresso mundial de conservação de áreas protegidas da IUCN!
Meu segundo objetivo era voluntariar. Mas não
apenas voluntariar no congresso, eu queria algo maior, por que não usar minhas
férias pra ir pra outro país voluntariar pela AIESEC? O processo foi bem
estressante, eles me disseram que tinham muitos projetos na área ambiental, eu
paguei a taxa, e no fim não achei nenhum projeto que não fosse ensinar inglês
pra crianças. Me inscrevi pra um na Indonésia, fui aceita, comprei passagens.
Mas tinha alguma coisa errada... Aquela decisão não parecia ser a melhor opção.
Um dia recebi um email com uns projetos pra trabalhar numas fazendas em Taiwan
- não tive dúvida, ia cancelar o projeto da Indonésia! Mais dor de cabeça, mais
choros, muitas vezes tudo o que eu queria era só voltar pro Brasil pra chorar
no colo da minha mãe porque parecia que nada estava dando certo. Eu nunca tinha
tido tanta responsabilidade assim na minha vida, e admito que é difícil manejar
tanta coisa ao mesmo tempo. Mas minha mãe sempre me ajudou me lembrando quanta
coisa eu já conquistei, e que eu não deveria desistir! Eu tinha ido já tão
longe... Desistir agora seria bobeira, e preguiça. Seria “nadar, nadar, e
morrer na praia”. No final decidi ir pro Sri Lanka, num projeto para
voluntariar num abrigo para animais. Mais problemas pra resolver, falta de
dinheiro, problemas em trocar a passagem, choro no celular conversando com a
atendente da companhia aérea, conversas com a minha mãe no skype, stress
juntando tudo isso ao mesmo tempo com as provas finais e sensação de que você
vai reprovar em tudo, problemas no meu ciclo menstrual, últimos dias com as
minhas amigas.... Ufa! Eu nunca vivi a vida tão intensamente.
Num dos dias mais stressantes da minha vida, um
amigo meu da malásia me disse que eu deveria ficar feliz, pois é melhor uma
vida cheia de responsabilidades, riscos e correria do que uma vida
monótonamente segura. Porque no futuro
eu iria me arrepender de não ter arriscado, e todo esse stress só indica que eu
estou vivendo minha vida intensamente. Eu li alguns dias atrás no facebook uma
mensagem "Como eu posso culpar o vento pela bagunça feita, se foi eu quem
esqueci a janela aberta?" e compartilhei, traduzindo em inglês também. Um
querido amigo meu singapuriano comentou dizendo que sim, nós podemos nos mudar
para um quarto sem janela, ou até sem vento. Mas que vida chata seria essa! A
vida é feita de ventos, e bagunças são inevitáveis! Cabe a nós arrumarmos a
bagunça, pois é assim que a vida funciona.
Esse comentário foi tão lindo, são coisas como essa que eu vou levar pro
resto da minha vida.... As pessoas são incríveis, a vida é incrível: ela te
ensina tanto, colocando as pessoas certas nas horas certas no seu caminho. Só
que a gente não dá valor ou muitas vezes não percebe!
Eu só tenho a agradecer a Deus pela minha vida.
No fim eu nem sei porque eu escrevi tudo isso, foi meio que um desabafo, junto
com reconhecimento e agradecimento pelas coisas boas que já aconteceram! Espero
nunca esquecer de agradecer a Deus, ao universo, ao acaso, ou a qualquer coisa
que esteja no controle- isso vai além da fé e crenças. É gratidão J
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No momento (20/11) estou em Sydney, essa semana de voluntariado no Congresso foi demais! Aprendi muito, conheci tanta gente! Depois posto as fotos. Esse texto q eu escrevi significa muito pra mim, e eu vou (I'll try my best to) traduzir depois que eu voltar pra Canberra, pelo menos o comecinho pra mandar pras minhas amigas :)
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